domingo, 22 de maio de 2011

ROCK'N'ROLL: O GRITO DO JOVEM - UMA BREVE HISTÓRIA

Olá caros leitores!

Conforme prometido aos alunos das turmas do 2º e do 3º anos, em nossa aulas de Sociologia da Juventude, inicio aqui uma breve e humilde tentativa de apresentar uma história do rock'n'roll.
Humilde porque qualquer projeto que ouse descrever o surgimento, o desenvolvimento e as implicações sociais, políticas e culturais do rock nas sociedades capitalistas (e outras) da segunda metade do século XX em diante, será um mega projeto.
Mas nossa abordagem aqui é mais pontual: apresentar a mensagem do jovem enquano ator social, ou seja, aquele que tem papel, tem voz na sociedade através da música.
O jovem surge como ator social na sociedade capitalista a partir das revoluções culturais e comportamentais eclodidas nos anos 1950 e 1960. A filosofia existencialista (de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir), o feminismo, a contra-cultura, os movimentos por direitos civis dos negros, o pacifismo, o ambientalismo e a constestação da guerra e do consumismo desenfreado compõem o cenário para este agente apresentar seu papel na sociedade.
E o rock'n'roll nasce nesse contexto: rebelde (sem causa?), contestatório e ávido por mudanças.
Entender as manifestações artísticas dos roqueiros é entender uma coisa: o jovem quer ter voz.
Esta, portanto, é nossa meta aqui. Mostrar como o jovem se colocou na sociedade. E a transformou.

A forma como apresento essa trajetória é através de uma "linha do tempo" áudio-visual. Através de vídeos dos artistas emblemáticos, comentários e reflexões sobre suas mensagens e atitudes, pretendo evidenciar a voz, ou melhor, o grito solto pelos jovens até então emudecidos pelos padrões sociais vigentes.
É muito provável que não mostrareii aqui aquela banda ou aquele(a) artista que você admira e que, com justiça, deveria estar nessa proposta. Sem problemas! Você, caro(a) leitor(a), está convidado a postar vídeos, seus comentários e suas reflexões que ilustrem ainda mais esta nossa tentativa.

Então vamos lá...

Tudo se inicia com os negros estadunidenses oprimidos há séculos numa sociedade marcada pela escravidão e, posteriormente, pelo racismo. A música negra representada pelo blues, pelo jazz e pelo rhythm and blues, soa como uma sutil mensagem de contestação a esse quadro opressor.
Numa sociedade em que o auge do status social era qualificado pela expressão WASP (White, anglo-saxon and Protestant - branco, anglo-saxão e protestante), essa musicalidade de matriz africana só podia ser malvista por "respeitáveis" cidadãos estadunidenses.
Para ilustrar o que estamos falando, assistam a esse vídeo de 1954. Nele aparecem grandes nomes da época, representantes de um ritmo que é considerado o pai negro do rock'n'roll: o rhythm and blues.
Com vocês os grupos The Larks e Delta Rhythm Boys, além do genial Nat King Cole.





Para refletir: até que ponto concessões como aparições em programas de TV, espaços na grande mídia e atitudes de tolerância representam o cumprimento da verdadeira cidadania plena? Lembemos que em 1954 vigoravam as leis de segregação racial contra negros nos EUA.

Como essa musicalidade negra poderia então conquistar as inocentes mocinhas e os responsáveis rapazes brancos da sociedade WASP estadunidense? Oras, pensem um pouco...
Isso! Com rapazes brancos e confiáveis para a sociedade racista executando (ou se apropriando?) do ritmo negro.

"Rock around the clock" (1955) é considerado o primeiro grand hit comercial do rock. Bill Halley e seus Cometas anunciam nessa canção o que o jovem quer: dançar, agitar durante horas e horas (around the clock). À primeira vista, uma inocente canção de jovens alienados e festeiros. Calma...
Observe que estes jovens estão dando uma poderosa mensagem à sociedade: "nós temos valores próprios" e pior ainda (para a sociedade WASP): "nós gostamos dessa música de coloured people" (pessoas de cor).

Apreciem...



A partir daí, a indústria cultural estadunidense percebeu um grande negócio e um importante público-alvo. Ao mesmo tempo, permitiu que artistas negros tivessem maior visibilidade midiática.
Surge um astro negro do rock'n'roll, com alguns problemas com a lei: Chuck Berry.



E outro gênio negro: Little Richard.



Mas nesse momento inicial, veremos aparecer o jovem que sintetizará a musicalidade e a sensualidade negras e a outra face rítmica do rock'n'roll, com sua vertente rural (country). Quem é ele?

Elvis Presley! Um branco dançando e suando feito um negro, escandalizava os pais e atraía os filhos da classe média estadunidense. O grito negro ganha seu mais potente porta-voz branco.



Percebam que o rock'n'roll passa de maldito para venerado gênero musical graças à sua inserção no mercado midiático já nos anos 1950. De certa forma, podemos afirmar que houve uma "domesticação" da agressividade contestatória do rock'n'roll.

Na década de 1960, os EUA, inseridos numa guerra ideológica contra o avanço do socialismo pelo mundo (a Guerra Fria), apresenta-se como o protetor do capitalismo a todo custo. Inclusive através da guerra... quente!
Nesse contexto, eclode a Guerra do Vietnã. Milhares e milhares de jovens são jogados para morrer e matar numa guerra que não lhes faz sentido. E portanto, passam a contestá-la. E o rock já estava consolidado como um potente porta-voz da juventude ativa na sociedade.
Surge então um grande nome da música engajada politicamente: Bob Dylan.

A canção apresentada neste vídeo é um emblema da época. Alguns de seus versos dizem: "sim, e quantos anos pode existir uma montanha/antes que ela seja lavada pelo mar?/sim, e quantos anos pode uma pessoa existir/até que lhe seja prometido ser livre?/sim, e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça/e fingir que ele simplesmente não vê?/a resposta, meu amigo, está soprando no vento". Vale a pena entender essa forte mensagem, que ainda é atual.
Apreciem "Blowing in the wind".



Até aqui, caros leitores, abordamos o início do rock'n'roll como poderosa mensagem do jovem. O que foi contestado até aqui? A opressão da juventude pela falta de participação social e o conservadorismo WASP estadunidense, pela valorização exacerbada do capitalismo e do sacrifício de jovens em guerras injustificadas, além do racismo.

Mas tem mais. Essa mensagem do rock'n'roll se espalhará cada vez mais na América e cruzará o oceano Atlântico, tornando-se um fenômeno social mundial.

Até a próxima postagem com a continuação da saga de jovens músicos revolucionando o mundo.

Um grande abraço a todos!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

IMPOSTOS NA IDADE MÉDIA E NA ATUALIDADE:

Estudar História só faz sentido se soubermos conciliar os fatos do passado com nossa realidade social atual, numa discussão analítica.
Pois bem. Eis que numa dessas aulas de História, cujo tema principal era a Idade Média, apareceu uma análise da mais alta qualidade reflexiva.
Eu apresentava os impostos (aqueles inúmeros e terríveis impostos) medievais, que não permitiam ao servo vivenciar a mobilidade social. Corveia, talha, banalidades, impostos religiosos tolhiam a classe servil na essência de sua existência social: no trabalho cotidiano.
Bem, até aí nenhuma novidade. Aliás, um tema bastante visto e revisto em qualquer grupo que ouse estudar História seriamente.
Num determinado momento, uma aluna do 2º ano do Ensino Médio propõe a seguinte comparação: os servos medievais pagavam os tributos segundo o "acordo" estabelecido através do costume, que dizia: pague teus impostos que receberás a proteção (seja do senhor feudal, seja da Igreja; proteção física e espiritual, respectivamente). E assim acontecia. Imposto pago, benefício recebido...
E nós, cidadãos de uma sociedade democrática, altamente tecnológica, com acesso à informação de forma instantânea? Nós - refletiu a aluna, deixando-me perplexo, entusiasmado e feliz como professor naquele instante - nós pagamos nossos impostos baseados num acordo também: obtermos proteção social (educação, saúde, seguridade social) do Estado. No entanto, não recebemos nossa parte. E pior, aqueles que podem, além de pagar aquilo que lhe é imposto, pagam mais uma vez por serviços privados que deveriam ser públicos (é a escola particular, é o plano de sáude, é a previdência privada). Pagamos duas vezes e não recebemos tudo.
Ufa... terrível, não é?
Terrível realidade e brilhante observação feita pela aluna Catarina Stevanato Soares, do 2º B do Ensino Médio.
Obrigado, Catarina, por abrilhantar a aula com lucidez e senso crítico.
A nós, cidadãos, fica a provocação.
Um grande abraço!

segunda-feira, 21 de março de 2011

O OSSO, O MACACO, A HUMANIDADE E O PODER - REFLEXÕES SOBRE O HUMANO

Olá prezado leitor!

Nas recentes aulas de História junto às turmas do 1º ano do Ensino Médio, discutimos o processo de hominização, ou seja, o desenvolvimento de características físicas, psicológicas e culturais pelas quais primatas ancestrais passaram, culminando em nossa espécie: o homo sapiens sapiens.
Além dessa abordagem, nas aulas de Filosofia e Sociologia, discutimos aspectos da consolidação dos aspectos que nos tornam humanos: o raciocínio desenvolvido, as regras sociais, a capacidade de criação intelectual, as manifestações de poder, a interação humana e principalmente a nossa necessidade de viver em grupo, a nossa sociabilidade.

Com o intuito de chamar à reflexão sobre temas tão ricos e plenos de abordagens nas três disciplinas mencionadas (e em outras, sem dúvida), deixo dois vídeos que podem nos mover a lembrar e pensar o que somos, de onde viemos e para onde vamos...

Questões BEM simples, não é mesmo?

Cena do memorável filme dirigido por Stanley Kubrick (1928 - 1999) - "2001 - Uma odisséia no espaço" - em que hominídeos descobrem a diferença entre objeto e instrumento, obedecer e mandar. E eis que nasce o poder...



E aqui, o vídeo "Dancem macacos, dancem", que nos faz lembrar da nossa essência animal, mas que ao mesmo tempo ressalta nossas qualidades (?) humanas, dentre elas, o poder.


Ótimas reflexões!
Um grande abraço!